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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

De Itajaí a Russellville, Julio Pacheco ganha espaço no basquete universitário

Assistente técnico, cuja família escapou da tragédia nas enchentes em Santa Catarina, superou 40 concorrentes pela vaga em Arkansas Tech




Em meados de 2007, diante de quase 40 currículos empilhados na sua mesa, o técnico americano David Wilbers bateu o martelo. Daria a um brasileiro a vaga de assistente no time de basquete feminino da Universidade de Arkansas Tech. Bem longe dali, o catarinense Julio Pacheco recebeu a notícia e, sem pensar muito, engoliu o medo do desconhecido. Largou sua equipe juvenil, colocou tudo o que podia dentro de uma mala e... cadê o dinheiro da passagem? Entra em cena Leila, a prima-patrocinadora que bancou a viagem e deu partida na aventura. Quando percebeu, Julio já estava desembarcando na pequena Russellville, que une fazendas de caça e pesca, uma usina nuclear e – ainda bem – bolas de basquete.

- Foi uma oportunidade que eu agarrei com muita força. Minha prima, que é uma pessoa fantástica, me patrocinou. Eu vim para um lugar que nem sabia onde era, nunca tinha ouvido falar no estado do Arkansas, e era para trabalhar com uma pessoa que eu não conhecia. Entrei no avião e vim com a cara e com a coragem – conta Julio, que acaba de fazer 29 anos.


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Aspas

As pessoas me perguntam de que parte da Austrália eu vim, ou me pedem para contar como é a vida na Escócia. Quando falo que sou brasileiro, não acreditam"

A tal pessoa que ele não conhecia era Wilbers, o homem dos currículos, que além de chefe logo virou amigo. No início, ainda como uma espécie de assistente secundário, o brasileiro ajudou o time a atravessar uma ótima temporada na Divisão 2 do torneio universitário americano. O reconhecimento veio com a promoção a assistente principal, e àquela altura a tensão com o novo ambiente já tinha evaporado. Hoje, olhando rápido, dá até para desconfiar que o braço direito do head coach é um nativo. À beira da quadra, com a prancheta na mão e envergando ternos elegantes, Julio engana os desavisados.

- Como sou ruivo, as pessoas me perguntam de que parte da Austrália eu vim, ou me pedem para contar como é a vida na Escócia. Quando falo que sou brasileiro, não acreditam. É lógico que, pelo fato de eu viver numa cidade muito provinciana, houve algumas críticas, principalmente depois que assumi o cargo de primeiro assistente. Mas para mim nunca ninguém falou nada, sempre fui respeitado. A globalização já entrou na cultura americana – explica.



O pensamento entre os EUA e as enchentes em Santa Catarina



O cabelo alaranjado é fruto de Itajaí, cidade catarinense arrasada por enchentes antes da virada do ano. Entre os milhares de desabrigados, a família do técnico conseguiu escapar, mas teve gente conhecida que perdeu tudo.



De terno preto, Julio observa as orientações do técnico David Wilbers durante o pedido de tempo

Para driblar a angústia, Julio se apega aos resultados dentro da quadra. As meninas de Arkansas Tech vêm fazendo bonito na temporada. São seis vitórias consecutivas, algumas contra adversários difíceis e duas dramáticas, na prorrogação. Resultado de um trabalho incansável.

- As atletas têm uma folga por semana, e a comissão técnica não para nunca – explica o assistente, que conversou com o GLOBOESPORTE.COM por telefone em pleno domingo, no escritório, debruçado sobre gravações em vídeo.

Como se não bastasse planejar treinos, agendar viagens e recrutar jogadoras, Julio ainda dá aulas de golfe. Todo mundo na comissão técnica é obrigado a lecionar no Departamento de Educação Física da faculdade. Mas... golfe?

- Quando a chefe do departamento me avisou, eu nunca tinha jogado golfe na vida. Mas o coach Wilbers, excelente golfista, me levou para o campo. Fiz um intensivo em dois meses – conta Julio, admitindo que, com tantas atribuições durante a temporada, fica difícil dar um pulo em Fayetteville, cidade vizinha para onde o técnico gosta de fugir em momentos de lazer.


"Tenho vontade de estar na seleção brasileira, não importa se é base ou adulto, masculino ou feminino. Quero é vestir a camisa do país que amo"



Momentos de lazer são raros na rotina de Julio

Se não dá para ir nem ali perto, voltar para casa ainda está bem distante dos planos. A idéia é se transferir para uma universidade maior nos próximos anos e continuar evoluindo na carreira. Mesmo longe de casa, no entanto, Julio revela que o futuro ideal se desenha em tons verde-amarelos.

- O sonho de todo mundo relacionado ao esporte é representar sua seleção nacional. Tenho essa vontade de estar em uma das seleções brasileiras, não importa se é categoria de base ou adulto, masculino ou feminino. Quero é vestir a camisa do país que eu amo – conta, contrariado com a situação do basquete no país.

Ainda que o sonho demore para virar realidade, Julio está disposto a ajudar de outras formas, não apenas dando palestras no Brasil e contando suas experiências adquiridas no exterior, mas abrindo as portas de seu novo lar para técnicos compatriotas.

- Estou à disposição para treinadores brasileiros que quiserem visitar nossa universidade. A gente toma conta, pode ficar uma, duas semanas. Só precisa dar um jeito de chegar aqui.

Ouviram, primas-patrocinadoras?

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