sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Liga Nacional tenta driblar a crise dos clubes e manter a qualidade técnica
Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM, presidente admite que times terão problemas, mas confia na moralização para buscar recursos
Desde questões maiores como a inspeção de ginásios e a implantação de um sistema antidoping até a simples criação de logotipos para estampar os uniformes, Kouros Monadjemi iniciou 2009 com a mesa cheia. O presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB) coordena os últimos ajustes para a estreia do Novo Basquete Brasil (NBB), que abre os trabalhos no dia 28 deste mês com 15 clubes na disputa pelo título. De seu escritório em Belo Horizonte, o dirigente conversou com o GLOBOESPORTE.COM sobre a estrutura do torneio, a crise financeira, a ausência das meninas e até a promessa de punições severas para os brigões na quadra.
Kouros espera que, nos próximos anos, a Liga possa cobrir gastos que hoje são dos clubes
GLOBOESPORTE.COM - O NBB deve fechar em janeiro seu primeiro patrocínio, da Eletrobrás. Com essa receita e os direitos de televisão, como vai ser a divisão de custos? O que os clubes terão de bancar?
Kouros Monadjemi - O custo do campeonato está nas mãos de cada clube. Cada um tem o seu patrocinador e, dentro desses patrocínios, eles arcam com a logística - hospedagem, viagem, transporte, parte médica, taxas de arbitragem. Agora, obviamente, a exposição do esporte na mídia vai ser maior, então os patrocínios da Liga devem melhorar. A ideia é que, em pouco tempo, a Liga cubra os principais custos.
Alguns clubes têm sofrido com a crise financeira. O Flamengo, atual campeão nacional, é um deles. Assis disputou o Paulista, mas vai para o NBB com um elenco bem mais fraco. Esses problemas pontuais vão prejudicar o primeiro ano do torneio? Não tenha dúvida de que vão prejudicar o esporte brasileiro de um modo geral. A crise econômica vai afetar os orçamentos dos clubes. Assis é um caso típico. O patrocinador não tem como manter o investimento. Eles conseguiram outro patrocínio, mas se desfizeram de alguns atletas que tinham salário acima da média.
Com isso, a qualidade dentro da quadra cai. Como fica o critério técnico?
Nós tomamos muito cuidado com a qualidade das equipes. Não basta querer disputar a Liga. A fundação teve 19 equipes, e só 15 vão participar. E assim mesmo Assis vai entrar um pouco esfacelado. Vai lutar por uma posição intermediária no campeonato. Na mesma situação estão clubes como Araraquara e Vila Velha, que têm investimento médio. Há uma comissão técnica formada por treinadores de gabarito e hoje coordenada pelo Lula Ferreira, que decidiu os times participantes. Esperamos que, nos próximos anos, a Liga possa ajudar esses clubes com algumas despesas. Aí todas as equipes vão se fortalecer.
O Nordeste reclamou por não ter nenhum representante na Liga. Isso também foi uma questão técnica?
A Liga não existe para meia-dúzia de clubes elitizados. Nossa intenção é unir o Brasil. Mas você há de convir que, por mais que nós estejamos otimistas, o primeiro passo é criar o campeonato. Vamos olhar a Liga do Nordeste, possivelmente faremos um torneio regional, para que saia o campeão de lá e dispute com equipes vencedoras do Sul, até incluir um ou dois times no NBB. O que não pode acontecer hoje é, pelo fato de ter que colocar uma equipe do Nordeste ou do Norte, obrigar 15 times a viajar até Pernambuco, Pará ou Amazonas para fazer uma partida que termina em 120 a 40. Não faz sentido.
E quando esse cenário vai mudar?
Temos que cuidar do Nordeste para fortalecer essas equipes. Acho que, em cinco anos, poderemos ter condições de trazer alguns representantes da região para a Liga.
Nos torneios nacionais, estamos acostumados a ver, com uma frequência maior que o normal, jogadores brigando dentro da quadra. E as punições geralmente são brandas, o que gera um sentimento de impunidade. A Liga já pensou nisso?
Sem dúvida nenhuma. Acabamos de aprovar um regulamento rígido a ponto de multar atletas por indisciplina e impor suspensões e trocas de mando de quadra. Isso vai ser colocado em prática. Aliás, não só isso, mas também o exame antidoping. Quem cometer indisciplina será severamente punido. Tivemos uma reunião com todos os técnicos, conscientizando-os disso.
Há um custo alto para exame antidoping. Os clubes vão bancar?
É caro, mas para moralizar o esporte, é preciso estabelecer esses parâmetros. Estamos vendo o custo real para analisar a melhor maneira de fazer.
As meninas não devem entrar no Novo Basquete Brasil antes do terceiro ano
As meninas ficaram meio chateadas com a Liga, que as deixou fora da festa. Qual o plano para o basquete feminino?
Diga para elas não ficarem chateadas não (risos). Nós não conseguiríamos abraçar o mundo. A idéia do feminino não nos sai da cabeça, temos todo o interesse de fazer, mas é preciso um pouco de tempo. Vamos ganhar em organização, infraestrutura. Depois vamos tentar apontá-la para o feminino.
Quanto tempo vai levar até as meninas entrarem para o NBB?
Acho que não antes de três anos. Precisamos nos sentir confortáveis de que temos condições. Precisamos levar o basquete para o seu lugar de origem, como segundo esporte mais popular do Brasil, atrás apenas do futebol. Temos que resgatar essa credibilidade porque, sem ela, não dá para viabilizar certas coisas. Hoje o nosso modelo é o vôlei, que tem uma administração fantástica. Queremos chegar ao mesmo patamar. Aí, sim, vamos pensar em buscar o feminino. Mas vai acontecer sim, pode esperar.
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Um comentário:
Em relação ao Nordeste, existe sim uma liga em que participam vários times, e que neste ano de 2009, FTC da Bahia sagrou-se campeã, inclusive FTC tem um time que pode bater vários adversários do sul/sudeste, tendo capacidade assim de participar da NBB e até ficar em uma posição intermediária brigando até pelos playoffs, e não "perdendo de 120 a 40" como foi citado. O Nordete tem times e jogadores muito fortes, só precisa ser valorizado e ter apóio.
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